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template by: Charlene Farias


[sexta-feira, outubro 7]

Letra de "Antes que seja tarde"
Banda: Pato Fu


ANTES QUE SEJA TARDE

Olha, não sou daqui,
Me diga onde estou,
Não há tempo não há nada
Que me faça ser quem sou,
Mas sem parar pra pensar
Sigo estradas, sigo pistas pra me achar.

Nunca sei o que se passa
Com as manias do lugar,
Porque sempre parto antes
Que comece a gostar
de ser igual, qualquer um,
Me sentir mais uma peça no final,
Cometendo um erro bobo, decimal.

Na verdade continuo sob a mesma condição:
Distraindo a verdade, enganando o coração.

Pelas minhas trilhas
Você perde a direção,
Não há placa nem pessoas
Informando aonde vão.
Penso outra vez
"Estou sem meus amigos"
E retomo a porta aberta
Dos perigos.

Na verdade continuo sob a mesma condição:
Distraindo a verdade, enganando o coração.
Na verdade continuo sob a mesma condição:
Distraindo a verdade, enganando o coração.

Enganando o coração...

Na verdade continuo sob a mesma condição:
Distraindo a verdade, enganando o coração.
Na verdade continuo sob a mesma condição:
Distraindo a verdade, enganando o coração.

Enganando o coração.
Enganando o coração...

(Pato Fu)
(composta por: Fernanda Takai / Tarcísio Moura)




Seguinte: esta é a música de hoje.
Não sei quando começou minha identificação com essa letra, mas lembro bem que em 2001, na época da Informática na UFRJ já me sentia do jeito que ainda me sinto às vezes.
Naqueles tempos (parece que foi há décadas, deve ter sido, pra mim) eu me sentia mal pra caralho por estar numa faculdade que não me dava alegria em nada. Eu me sentia mal já no lugar onde moro. Me sentia mal no grupo de colegas do colégio. Me sentia mal na academia, onde eu fazia karatê. Notavalmente presa em mim mesma, desconfortável com todo o mundo a minha volta. Pra todo canto que eu fosse, por mais que gostasse de início, me vinha a sensação de não pertencer àquele momento. "Olha, não sou daqui, me diga onde estou, não há tempo não há nada que me faça ser quem sou". E eu permaneci seguindo estradas, pistas pra me achar, como na música. Em 90% das vezes largando o que eu fazia, sem pensar mesmo, pelo "simples" motivo de não me sentir bem.
Tudo em razão da minha timidez instável. Instável porque em alguns momentos eu quase chegava a ser eu, em outros eu me odiava por ser uma pessoa diferente do meu desejo, e com alguns poucos amigos que compreendiam meu jeito eu dava bons passos em direção a um rumo certo. Mas como "pelas minhas trilhas você perde a direção, não há placas nem pessoas informando aonde vão". Pra quem conhece a continuação da música... "Penso outra vez: estou sem meus amigos". Se nem eu até hoje, após 23 anos, não compreendo muito de mim, quem dirá amigos, coitados, que até mesmo tentam seguir estas trilhas, mas se perdem. Dependendo da minha estrada, pode não haver sinalização nenhuma pela frente. Me perco também. Muitos amigos não prosseguindo o caminho, não pela falta de amizade verdadeira por parte deles, mas pela má conservação das minhas estradas mesmo, pelos tropeços que dou e eventuais acidentes. A "porta aberta dos perigos" é uma constante, tá sempre próxima, escancarada e convidativa.
Então, já naquela época eu buscava algum lugar pra sentir que fosse meu. Andei, parei, corri, tomei tombos muito feios, me machuquei quase fatalmente, voltei a andar, e resolvi fazer essas coisas muito mais no meu tempo. Só que um ser que me acompanha por esse caminho todo continuou sedo a TIMIDEZ, como um cachorrinho. Posso bater nela, posso xingar, colocar pra correr, deixá-la sem alimento, mas a filha da puta sempre volta, latindo, fazendo festa, estrago e tudo mais (latido? estrago? ploft).
Pulando toda a consternação dos meses loucos e sem sentido que se seguiram, sem a timidez tão por perto, fui parar num serviço comunitário que mudou meu rumo. Em parte temporariamente. Mas muito daquele momento foi tão parte de mim que até hoje caminho pelas trilhas às quais fui levada por ele: fui parar na faculdade de Direito. Se não fosse aquele pré-vestibular, aquele ambiente, eu continuaria num ódio preconceituoso e improdutivo de que ser advogado era a coisa mais monótona e hipócrita do mundo. Não pretendo ser advogada, não sei nem se quero seguir carreira dentro do Direito, mas aprender como as coisas funcionam dentro desse espaço está me fascinando. E mais ainda: conheci pessoas lá dentro que já estão mudando um pouco o jeito elitista da faculdade. Sinto que desse lugar eu sou um pouco parte, mas também me pergunto às por que que não consigo ser inteiramente.
Tenho tentado mudar meu jeito. Tenho tentando não me restringir a grupos de pessoas, mas minha timidez, a incansável canina, não sai do meu lado. Ela ameaça, late! E semana passada, quem diria, ela me mordeu! Eu me enfiei em trevas profundas pór conta duma simples apresentação de trabalho. Um trabalho bobo em dupla, nem precisava falar muito, ganhava 2 pontos quem se apresentasse, não era obrigatório. Meu amigo e eu fizemos tudo, achamos o caso pra apresentação, fizemos cada um seu resumo escrito, ele imprimiu as transparências e na segunda-feira, 2 dias antes da apresentação, eu surtei. A palavra é essa: surtei. Não conseguia dormir, tive falta de ar, começou a me dar pânico, meu amor ficou tentando me acalmar e fiquei chorando por mais de 1h, sem ouvir direito ou dizer coisa que valesse a pena. A timidez, cachorra, me mordeu feio. Faltei aula na terça, na quarta, fiquei muito mal, voltei há 3 anos atrás e me matar era uma opção muito válida. "Ah, se matar por isso... que bobeira, Charlene!". Era um surto, um sentimento de não-sei-quê misturado com o medo e a motivação toda que eu tinha quando, há tempos atrás, realmente tentei me matar. Mas eu me segurei. Me segurei nas mãos que estavam estendidas. A do meu amor, as dos meus amigos. E prometi que procuraria terapia.
Da quinta-feira pra cá, apesar da vergonha enorme que senti de mim ao voltar na faculdade, continuei me alegrando por estar lá. Tem pessoas com um humor cativante e não quero sair de lá. Mas há muito a melhorar. Preciso de terapia, isso é óbvio. Mas não consigo buscar algum tratamento pra isso que parece bobo mas quase me tirou a vida anos atrás e volta e meia me ronda. Esse sentimento de não pertencer a nada, de que não conseguirei mudar.
Hoje, matei uma prova, e eu nunca faço isso. Tomei um 6,0 também em Teoria Geral do Processo, que por pior que pareça não me deixou triste como deixaria há períodos atrás. Já compreendo e aceito que faz parte. Então enquanto eu não fazia a prova e alguns outros colegas estavam desocupados também, fomos pra um espaço inteiramente novo pra mim, que todos já conhecem desde os primórdios: a sala do CALC, o Centro Acadêmico do Direito (ou CA). Nunca fui pra lá, em 2 anos, e descobri que fazem rodinha de violão! Amo isso! Nota-se meu nível de alienação por aí. Meus colegas quase todos freqüentam aquele lugar, a maior confraternização. E eu: "Ahn?". Um novo mundo. "Nunca sei o que se passa com as manias do lugar, porque sempre parto antes que comece a gostar de ser igual, qualquer um, me sentir mais uma peça no final". Eu deveria tentar me enturmar mais. Mais do que tenho lutado. Mas acabo partindo antes que comece a ser mais uma peça, sem querer.
Pra completar a ironia da situação, começam a cantar músicas atrás de músicas, e eis que um deles pede algo do Pato Fu. Eu fiquei feliz, dei um sorrisão. A menina que tocava o violão começou a cantar esta música que estou postando, mas não lembrava da letra e ninguém mais sabia também. Depois do sorrisão acusador que dei, ela vira e diz: "Como é mesmo?", com aquela cara de "Canta comigo?". Fiz uma grande força interior, tentei vencer minha timidez e até que esta ficou quieta, abanando o rabinho, olhando pra mim, mas na dela (a timidez, não a menina, hein!). Cantei! Fato histórico! Me senti meio tímida sim, não conseguia olhar pra cara de ninguém além da menina e do violão. Antes disso haviam cantado "A estrada", que também tem tudo a ver com este post, mas esta tímida aqui, embora cheia de vontade e amando a música, não deu um pio. Logo depois ela me convida a cantar, sozinha com ela aquela música que ninguém sabia e meu amigo ficou admirado olhando pra minha cara (não pela voz, diga-se, mas pelo fato de eu resolver cantar, porque ele já me conhece). Num post anterior eu disse que só canto publicamente estando bêbada. Acrescento uma situação que omiti: também canto com o Rafa no videokê. E hoje eu superei parte de mim, embora eu tenha me sentido meio envergonhada. A timidez aquietou novamente quando embalaram a cantar Spice Girls, Britney, Celine Dion e até Lara Fabian!
Bem... esse post imenso, longo, chato e cansativo é todo só pra chegar às conclusões: a minha timidez é uma vadia; quem diria que eu faria isso, ainda na frente do meu amigo que sempre me pediu pra cantar e recusei; que puta coincidência eu ter que cantar logo ESSA MÚSICA! Caralhow!
Quando entrei naquele lugar eu pensei exatamente: "nunca sei o que se passa com as manias do lugar". Não fazia idéia de como era bom estar ali, tantas as possibilidades que perco pelo meu jeito de ser.
E, enfim, desde de 2001 pra cá bastante coisa em mim mudou, admito, mas não chega à metade do que eu precisaria pra me sentir bem comigo. Parece até que "na verdade continuo sob a mesma condição: distraindo a verdade, enganando o coração"


Baixe esta música aqui: "Antes que seja tarde" - Pato Fu





PS: o Pato Fu é ótimo! Tenho que falar sobre eles futuramente.

traduzido por Charlene Farias às 10:48 PM  
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